Impactos da tabela de frete mínimo na terceirização de transporte
por Rodrigo Arozo
By diagma, julho 19, 2018 Artigo Diagma
Além dos diversos transtornos relacionados ao abastecimento de mercadorias no processos de varejo e nas entregas de e-commerce durante a sua duração, a greve dos caminhoneiros trouxe como desdobramento a possibilidade de passarmos a conviver com a famosa tabela de fretes rodoviários.
Além de ferir as regras do livre mercado, a forma como este assunto vem sendo conduzido gera três fontes de incerteza e/ou pressões de aumento de custo para as empresas embarcadoras:
- O próprio estabelecimento de uma tabela de frete mínimo, com o objetivo de garantir uma remuneração básica para os caminhoneiros traz o risco de um “estoque de mercado” e consequentemente um possível aumento nos valores de frete praticados atualmente. Segundo a CNA (Confederação da Agricultura Pecuária do Brasil), a tabela de fretes trouxe um aumento de 40% no custo de transporte das commodities agrícolas.
- As versões de tabelas apresentadas pelo governo até o momento traziam imprecisões metodológicas. Estas imprecisões incluem a não diferenciação de itens de custo para veículos diferentes (consumo de combustível, pneus, etc.) e também a não consideração de aspectos operacionais, tais como: tempos de carga e descarga, velocidade média, tempo em fila, etc. Estas abordagens generalistas não respeitam diferenças operacionais e com certeza trarão distorções de custo em algumas rotas/operações.
- A indefinição jurídica sobre a constitucionalidade desta iniciativa do governo traz não somente a insegurança sobre se os valores da tabela estão válidos, mas também o receio do que pode vir a substituí-la caso o STF a julgue inconstitucional.
Após anos de crescente aumento na outsourcing das atividades logísticas, este cenário tem levado muitas empresas a cogitar internalizar suas operações de transporte. Se por um lado é direta a identificação do impacto no custo operacional devido à adoção da tabela de frete mínimo, por outro é bem mais complexa a estimativa de como se dará uma possível operação primarizada.
A implantação de uma operação primarizada de transporte vai muito além da definição da compra de veículos, abrangendo também, por exemplo, os seguintes questionamentos que ficam muitas vezes a cargo das transportadoras nas operações terceirizadas.
- Propriedade dos cavalos, dos complementos ou do conjunto completo?
- Qual a estratégia de aquisição e renovação da frota?
- Qual o dimensionamento da frota necessária? Qual será o nível de ocupação desta ao longo do ano?
- Qual o nível de flexibilidade necessário neste dimensionamento?
- A operação própria deve ser utilizada para todas as rotas?
- Motoristas próprios ou terceirizados? Qual o risco trabalhista nesta possível terceirização de mão de obra?
- Como fica a manutenção da frota? Própria ou terceirizada?
- Qual a estrutura interna de logística necessária para a operação?
- Quais os impactos em processos ou funcionalidades adicionais de gestão, planejamento e controle serão necessários?
- Quais outros riscos operacionais podem surgir com o aumento da complexidade desta logística operacional?
Considerando esta lista não exaustiva de pontos relevantes a serem considerados, é recomendável que a adoção de uma estratégia de primarização da operação de transporte seja realizada apenas após um estudo completo e abrangente que considere todos os aspectos envolvidos e que garanta que a decisão traga benefícios econômicos no médio prazo.
Vale ressaltar também que em momentos de pressão por aumento de custos de transporte, antes de se partir para uma solução mais radical como a primarização, é possível alcançar economias através do aumento no profissionalismo/formalização na gestão e relacionamento com transportadores, bem como através de iniciativas de ganhos de produtividade de operações.