– Empresas americanas conseguiram reduzir de 10% para 8% do PIB do país os custos em logística durante a recente crise econômica, enquanto o Brasil viu os mesmos aumentarem no período, alcançando o patamar de 11,7% em 2014.
No período anterior o crescimento econômico brasileiro abriu possibilidades de diminuição custos para o setor, em uma margem de quase 2% do PIB entre 2004 e 2010, sem que tenha obrigatoriamente exigido uma revisão de processos e dinâmica de organização. Com a instabilidade batendo à porta das empresas, novas medidas se tornam necessárias.
Nesse cenário, o desenvolvimento da supply chain é um pilar importante para as empresas, em contrapartida à falta de infraestrutura e a complexidade enfrentada com a legislação e o sistema fiscal do país. Observando a expansão varejista e o surgimento de outros centros de consumo nas regiões Norte e Nordeste do país, as dimensões continentais do país aparecem como outro agravante.
Mas se a política e a burocracia são razões comumente evocadas para justificar a morosidade dos processos e os altos custos de distribuição, pouco ainda se fala sobre a cultura de desconfiança no Brasil.
Checar com cuidado a conta no restaurante, verificar no aplicativo o caminho escolhido pelo taxista ou exigir o reconhecimento de uma assinatura no cartório são gestos comuns no Brasil que demonstram a falta de confiança entre as pessoas. Enquanto os atos de corrupção estampam as capas dos jornais, o brasileiro acredita ser vítima de gestos de fraude em seu dia a dia.
Os processos logísticos no Brasil se constroem sobre essa convicção. Uma sequência de controles se repetem ao longo da cadeia de abastecimento: do fornecedor para o cliente, de uma área para uma outra, ou mesmo dentro de uma mesma área. Mas apesar de serem detalhados, sistemáticos e talvez por vezes repetitivos, esses controles presentes ao longo das cadeias de distribuição brasileiras não garantem uma taxa de serviço e qualidade dos estoques exemplar.
Ao invés de rever processos, as empresas tentam desresponsabilizar seus funcionários, deixando para eles tarefas manuais que não requerem tomada de decisão. Enquanto o retorno sobre investimento justifica projetos de automação fora do Brasil, o principal argumento aqui é a redução da dependência da operação à qualificação da mão de obra. O alto turnover das empresas explica em parte essa decisão, mas a desconfiança nos funcionários é geralmente o principal argumento.
Apesar das dificuldades e complexidades específicas do país, as empresas brasileiras dispõem de 3 alavancas para melhorar sua cadeia de abastecimento e aumentar competitividade: desenvolver uma relação de colaboração com os fornecedores, automatizar as trocas de informação e responsabilizar funcionários ao longo dos processos, para que a qualidade se mantenha do começo ao fim da cadeia. Em uma relação de confiança, os processos de controle são realizados por amostragem e não de forma sistemática.
Conclui-se que a complexidade da logística é realmente uma realidade no Brasil, mas as empresas dispõem de várias estratégias para redução de custos e está com elas a capacidade de aumentar sua competitividade. No contexto econômico atual, a supply chain é um eixo de evolução estratégica para as empresas brasileiras, reduzindo seus custos e aumentando os serviços oferecidos, conquistando novos clientes.
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Sócio-fundador da Diagma no Brasil