O varejista precisa estar aberto a novos processos e a formas diferentes de encarar e combater o problema, ainda grave entre as empresas do setor
Se depender do francês Aurélien Jacomy, sócio da Diagma Brasil, especializada em projetos de supply chain, o problema de ruptura está com os dias contados. Apesar disso, evitar a ausência de produtos nas gôndolas não se resolve apertando um botão. “É possível, sim, evitar 85% da ruptura no varejo, mas deve-se manter a mente aberta e saber rever conceitos. Não se trata apenas de uma mudança de processo dentro do supply chain”, afirma ele. Jacomy é enfático ao afirmar: “temos que parar de utilizar a infraestrutura como desculpa pelos maus resultados e achar soluções para organizar melhor as cadeias de abastecimento e distribuição”. Saiba mais sobre esse tema que ainda assombra o varejista.
A ruptura ainda é um problema no negócio supermercadista. Quais são os motivos principais que levam a ela?
O aumento da complexidade das cadeias de suprimentos dificulta muito a redução da ruptura. Tanto os fornecedores quanto os varejistas desenvolvem cadeias com uma oferta mais ampla, em quantidade de produtos ou em serviços. Alguns varejistas, que escolhem cadeias de abastecimento mais simples, conseguem ter uma taxa de ruptura abaixo de 5%. Mas, para as empresas que escolhem ter uma cadeia mais complexa, o uso da tecnologia permite gerenciar essa complexidade de forma mais eficiente. Seu uso, entretanto, deve ser acompanhado de mudanças: de processo, é claro, mas também de percepção do trabalho de cada um, de foco nos dados, em novos detalhes. O que era importante não é mais, e vice-versa.
A maioria dos varejistas sabe disso. Por que não conseguem afastar de vez esse fantasma?
Porque é preciso uma mudança forte de cultura e quebra de paradigma. A maioria das empresas para as quais trabalhamos consideram que a tecnologia permite reduzir a ruptura. Mas só isso não resolve o problema. Ela tem que ser acompanhada de uma mudança de cultura nas equipes de gestão da cadeia de suprimentos e de redefinição dos objetivos e dos trabalhos de cada um.
A partir de sua experiência internacional, qual o maior problema que impede o varejista brasileiro de diminuir a ruptura?
A mudança cultural ligada ao uso de tecnologia no Brasil é similar à de outros países. A principal diferença está na gestão de estoque. O varejo brasileiro ainda “empurra” muita mercadoria para as lojas, onde repositores e promotores parecem uma solução de baixo custo para abastecer o linear, com pouco esforço de gestão do estoque. Porém, levantamentos nossos demonstram que a boa gestão permite reduzir em mais de 30% a ruptura na loja.
Como vocês atuam no combate à ruptura?
Nos últimos dois anos, ajudamos três varejistas no Brasil a reduzir a ruptura, trabalhando em diversas frentes: melhorando a gestão e a qualidade do cadastro; mudando a cultura da área de abastecimento, na implementação de um novo sistema de abastecimento; transformando a cadeia de supply chain para liberar o estoque; com a implementação de novos processos de gestão do estoque e de abastecimento. Mesmo com problemas similares, as empresas têm culturas, organizações e momentos diferentes. É importante identificar o problema certo no momento certo e definir uma solução adaptada. Em um varejista francês de materiais de construção, por exemplo, conseguimos a redução de ruptura em 3 meses, passou de 10% para 2,5%.